sábado, 5 de junho de 2010

AMOR DE FÃ: A ILUSÃO DA PERSONA



Sou fã do ator, diretor e produtor Vincent D’onofrio. Descobri seu talento interpretativo ao vê-lo na serie Law & Order: criminal Intent. Assim como sou fã dele, sou admiradora de atores que como ele, falam sem texto, que se compõe, que transmutam. Robert de Niro, Al Paccino, Gene Hagman, Heath Ledger na sua impressionante personificação de Coringa, kevin Spacy, Maryl Streep...
Mas, para não ser tomada como alienada americanizada...rsrsr...sou fã da nossa grande dama Fernanda Montenegro, nosso Lima Duarte, o jovem Wagner Moura, a linda Camila Pitanga...todos que falam sem precisar de um texto. Maravilhosos.
Mas, de propósito diferenciei fã de admiradora. Fã é aquela que sabe tudo sobre seu artista preferido, nem sempre possui um corte critico a respeito de sua obra, mas, o ama de uma forma especial. Com o advento da internet é fácil ter fãs clubes, comunidades em torno desse “ídolo” e é interessante notar como o discurso das fãs, em sua maioria do sexo feminino se apropriam do ídolo como alguém tão próximo ou intimo.
No caso de Vincent D’onofrio, é comum as fãs se referirem a Vinie ou Vince, quando falam nele, ou adjetivos como “lindo”, “o astro”, “o nosso VDO”, “gostoso”, “gatão”. Quando se referem aos filhos dele, também usam de uma imaginaria proximidade: a Leila, O Elias, O Luka. Mas, invariavelmente a mulher do ator é a catalisadora da inveja de estar no posto em que todas as fãs gostariam de estar. Para ela adjetivos nada lisonjeiros: a bruxa, a feia, a mal vestida e por aí vai.
Mas, a quem amam as fãs? Ao Vincent D’onofrio, camaleão em cena? Afinal quem é este Vincent D’onofrio multifacetado nas fantasias femininas e até masculinas? Na verdade Vincent D’onofrio é uma persona, meticulosamente criada pela mídia, pensada para atingir um publico feminino, para quem aquele homem alto de 1.95, sempre será charmoso, gordo ou magro, másculo, um potente amante sexual, um gentleman, perfumado, inteligente e consagrado. A formula perfeita do sucesso masculino, do príncipe encantado, com uma pitadinha de uma timidez, um certo ar de menino desamparado que o confunde com seu mais conhecido personagem Robert Goren. E a quem amam as fãs? Robert Goren ou Vincent D’onofrio, essas duas personas criadas para povoar nossas fantasias.
As explicações podem ser de ordem psicológica, a necessidade da fantasia, o eterno príncipe encantado das mulheres, o ideal nunca atingido, a fuga do nosso castelo guardado pelo dragão do cotidiano e o suspiro pelo príncipe enquanto andamos nossa vida fora com o nosso marido-ogro, namorado-ogro, ficante-ogro, casinho-ogro...rsrsr.
Quem sabe filosófica, a busca da transcendência de um mito, o mito do homem perfeito, que ao ser conquistado nos faz perfeitas também, nós que daqui debaixo na terra olhamos o Olimpo habitado por esse deus perfeito.
Sociologicamente há quem diga que somos manipulados pela mídia, eles inventam ícones para manter sua indústria e consumimos alienadamente os seus produtos.
Um olhar antropológico poderia nos falar sobre o que essa emoção e este coroamento masculino pelo feminino fala de nós como sociedade de aparências, de necessidades do eterno e do impossível.
Porque, o que pensa mesmo Vincent D’onofrio? Ele pensa o que diz? É o pai perfeito que aparenta?
Nenhuma fã, e elas vão me xingar agora pensaria: é Vincent D’onofrio um egoísta que pensa apenas em si mesmo e deixa de lados os seus filhos, é um marido ausente, distanciado, grosseiro, violento? É um patrão educado e cortes ou esnobe? É alguém de caráter de quem se pode confiar ou dizer que é bom amigo, ou venderia a mãe por qualquer coisa? É um alcoólatra, dependente químico, possui algum transtorno mental? É orgulhoso, medroso, covarde, mau humorado, implicante, desmazelado, porco, machista, chauvinista?
Ao olhar suas fãs que fantasiam com ele, as olha com carinho ou pensa delas que são um bando de mulheres frustradas necessitadas de uma fantasia? Acredita que ele é a personagem que criou e se confunde? Afinal ele é humano!
Bem, de qualquer forma somos fãs e continuamos a dar a ele os adjetivos que sonhamos, manipulando-o da forma que queremos como diz a letra da musica Só pro meu prazer de Leoni “eu te imagino, eu te conserto, eu faço a cena que eu quiser, eu tira a roupa para você minha maior ficção de amor, eu te recriei só pro meu prazer, só pro meu prazer” e que torna nossas vidas possíveis. E ele o que faz? Faz o seu papel, o melhor de todos os seus papeis, atua na sua mais brilhante personagem: é Vincent D’onofrio, o multifacetado homem dos nossos sonhos.

Cândida Maria – Fã apaixonada, estudante de ciências sociais, escritora nas horas vagas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário